Doação de órgãos: histórias de vidas salvas pela solidariedade

No Dia Nacional da Doação de Órgãos, conheça três moradoras de Treviso que estão vivas graças aos transplantes.

 

Quantas vidas uma pessoa pode salvar com a doação de órgãos e tecidos? Conforme o médico da Secretaria de Saúde de Treviso, Arthur Mendes Luciano, um doador falecido pode beneficiar até oito pessoas. A doação de órgãos é o tema da campanha Setembro Verde, que visa alertar sobre a importância do ato e de se declarar um doador ainda em vida.

 

Conforme dados da Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina, o Estado realizou 717 procedimentos em 2021, e 1.224 pessoas ainda esperam por um rim, um fígado, um coração ou outros órgãos.

 

A desinformação e o preconceito pelo procedimento podem prejudicar a doação, mas há famílias que, mesmo durante o momento de dor, se solidarizam e permitem a doação dos órgãos de seus entes queridos. Foi graças a um desses atos de generosidade que a auxiliar administrativo Liliane Rosso, de 33 anos, hoje tem uma vida saudável. Liliane foi diagnosticada aos 16 anos com Fibrose Cística, doença genética que afeta principalmente os pulmões, e com o passar dos anos as internações se tornaram frequentes.

 

“Até que em 2017, em uma consulta de rotina, recebi a notícia de que minha expectativa de vida era de dois anos e que a única alternativa era o transplante pulmonar. Confesso que fiquei bem assustada. Foi um misto de sentimentos, preocupação e medo. Mas eu tinha duas opções: acreditava que daria tudo certo e teria uma nova chance de viver ou continuava sofrendo com os sintomas do agravamento da doença. Mas eu decidi viver!”, conta.

 

Liliane precisou sair de Treviso e permanecer em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para conter o avanço da doença. Após um ano e onze meses de espera, realizou o transplante pulmonar.

 

“Graças ao ‘sim’ de uma família à doação de órgãos, fui chamada e fiz o tão esperado e sonhado transplante. É uma corrida contra o tempo, onde você depende da generosidade de um desconhecido pra continuar vivendo”.

 

A história de Liliane faz parte dos 27.688 transplantes realizados no Brasil em 2019, conforme dados do Ministério da Saúde. Hoje, ela reforça a importância da doação de órgãos. “Eu precisei, muitas pessoas já precisaram e muitas ainda irão precisar. Então pensem nisso, conversem sobre o assunto, e se for da sua vontade ser doador de órgãos, avise a sua família! Ninguém quer morrer ou que a morte chegue a um dos nossos, mas quando ela chegar, que façamos dela a continuidade da vida de alguém especial por aí”.

 

“Sou grata eternamente a Deus, ao ‘sim’ do doador e sua família”

Ilda Possato Pagani, 51 anos, dona de casa

 

Em janeiro de 2017, Ilda sofreu uma hemorragia esofágica, foi submetida a um procedimento e iniciou uma investigação para descobrir o motivo da doença. Segundo ela, o funcionamento do fígado não estava normal, o que sobrecarregava as varizes do esôfago.

 

“O vírus da hepatite B estava num nível altíssimo e já havia prejudicado o fígado de uma forma irreversível. Por não ter nenhum sintoma, ser uma doença silenciosa, o diagnóstico chegou tarde”, explica.

 

Como o fígado comprometido por conta da cirrose hepática, surgiram nódulos e Ilda foi encaminhada para a fila do transplante. “Iniciou uma nova uma etapa de medos e preocupações, uma mistura de sentimentos a mim e a minha família, mas, ao mesmo tempo, sentia uma força surreal do poder de Deus”, friza.

 

Ilda permaneceu em fila de espera durante cinco meses no Hospital Santa Isabel, em Blumenau. O transplante de fígado foi realizado em junho de 2020.

 

“Todo processo foi positivo, a compatibilidade, o órgão saudável. Então chegou a minha vez e com o ‘sim’ do doador e o ‘sim’ da família do doador em morte encefálica. Com medo do desconhecido e ao mesmo tempo feliz, ciente no propósito de Deus em minha vida, era como se eu estivesse vivendo um sonho”.

 

Agora, Ilda faz acompanhamento médico de rotina. “Sou uma pessoa renovada, uma vida nova!”, finaliza.

 

“Eu renasci para uma nova vida”

Lucia Possato Miotelli, 52 anos, agricultora

 

Aos 10 anos, Lucia, irmã de Ilda, contraiu o vírus da hepatite B. Na época, não havia tratamento ou vacina para a doença. O acompanhamento médico teve início em 2018, quando descobriu que o fígado estava comprometido.  “Fui diagnosticada com cirrose e com um tumor maligno decorrente dá hepatite B.  Precisei ir para a fila do transplante e, com a graça de Deus, fiquei na espera somente três meses para receber o órgão compatível”, lembra.

 

O transplante de Lucia foi realizado no dia 29 de janeiro deste ano. “Pelo sim à vida, pelo sim à doação de órgãos eu renasci para uma nova vida!”, comemora.

 

Hoje, a agricultora também reforça a importância da doação e órgãos. “Seja um doador de vida, seja um doador de órgãos e avise sua família! Minha gratidão a Deus, à doadora, à sua família, para toda a equipe do hospital Santa Isabel, em Blumenau, será eterna”.

 

Conheça mais sobre a doação de órgãos

 

Conforme o médico Arthur Mendes Luciano, o transplante é um procedimento cirúrgico onde é retirado o tecido ou o órgão de um doador para, assim, ser transplantado em um receptor.

 

A doação do órgão ou tecido pode ser proveniente de um doador vivo, desde que a doação não prejudique sua saúde, como por exemplo: doação de um rim, medula, parte do fígado; ou de um doador já falecido, como nos casos em que se diagnostica morte encefálica”, explica.

 

Mas afinal, o que é morte encefálica?

 

 

A morte encefálica, de acordo com Luciano, “é quando podemos dizer que a pessoa faleceu, sendo irreversível. Por muito tempo se acreditava que a morte estava relacionada com o coração “parar de bater” ou “parar de respirar”, mas, na verdade o conceito de morte é quando perdemos nossa função cerebral”, explica o médico.

 

Saiba como ser um doador

 

 

Para ser um doador após a morte, é necessário comunicar, ainda em vida, o desejo para os seus familiares. “Após a morte, são eles que irão autorizar, ou não, a captação e doação dos órgãos. Por isso, converse com a sua família! Manifeste o seu desejo de ser um doador”, reforça o médico.

 

Já para ser doador em vida basta apenas ter 18 anos, condições adequadas de saúde e ser avaliado por um médico para realizar exames. O cadastro para ser um doador pode ser realizado por meio do site da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote)

 

Quais órgãos e tecidos podem ser doados?

 

Coração, valvas cardíacas, fígado, pulmão, ossos, intestino, medula óssea, ossos, rim, pele, pâncreas e córneas.